PROTAGONISMO NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE GEOGRAFIA: MAPEAMENTO PARTICIPATIVO
Introdução
Os processos formativos compreendidos na educação são genuinamente sociais e relacionam-se dialeticamente com a sociedade, pois ao mesmo tempo que esta sofre influências de suas dimensões, os influencia pela ação dos indivíduos envolvidos. Assim sendo, o envolvimento ativo do professor e do aluno, o nexo entre conteúdos e a realidade concreta, o acompanhamento contínuo da aprendizagem, o foco nas questões sociais reais e formação cidadã, a conexão do homem a sua cultura, são colocados como elementos norteadores para as práticas pedagógicas atuais (FREIRE, 1979; GATTI, 2006; DELORS et al., 2010; SAVIANI, 2012; LIBÂNEO, 2013).
Neste contexto, a experimentação, a inovação, o pensar novas conduções didático-metodológicas devem integrar a formação do profissional da educação (NÓVOA, 1992). É sob essa acepção que propomos o mapeamento participativo, com base em mapa mental, em curso de formação em Geografia. Especificamente, objetivamos verificar o nível de conhecimento cartográfico nas representações elaboradas; apreender princípios básicos da cartografia; propiciar a autoria cartográfica no processo de aprendizagem; compreender as relações geoespaciais presentes na área de estudo; explorar as potencialidades do mapa mental no ensino-aprendizagem geocartográfico.
Para tanto, desenvolvemos uma pesquisa qualitativa aplicada, de natureza exploratória-descritiva, pedagogicamente baseada nas concepções de Paulo Freire e metodologicamente na Pesquisa-Ação Participativa (PAP). No nosso percurso realizamos revisão bibliográfica, obtivemos dados e informações secundárias em fontes institucionais, produzimos dados e informações primárias pela observação participante, aplicação de questionários diagnóstico-avaliativos e diário de itinerância. Para tanto, ofertamos um curso de extensão universitária à graduandos em Licenciatura em Geografia, na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), no Campus XI/Serrinha, situado no estado da Bahia-Brasil.
Desenvolvimento
Forte foi a influência da perspectiva emancipadora e participativa, sobretudo na América Latina, proveniente dos trabalhos de Paulo Freire (BAUM, MACDOUGALL e SMITH, 2006; BASTIDAS e GONZALES, 2009). Sua Pedagogia Libertadora preconiza que a sociedade se encontra assentada na contradição opressor-oprimido. Os opressores impõem um destino de adaptação que desumaniza os oprimidos. Sendo os homens seres de transformação, não de adaptação, a superação da condição de oprimido provém da práxis. Para Freire (1987) apenas ocorre práxis se o saber resultante da ação se faz objeto da reflexão crítica. Ação e reflexão se imbricam em prol da transformação da realidade e pela práxis o homem cria história e se faz ser histórico-social.
A prática pedagógica deve assumir, então, caráter que transcende o fazer, visto que não se trata de fazer pelo fazer, mas deve ser fundamentada pela teoria e ao mesmo tempo, fundamentá-la. A prática pedagógica espelha concepções e atos e, ao mesmo tempo, fomenta suas permanências ou mudanças, quando conjugada à reflexão. Esse engajamento decorrente da práxis não ocorre nos moldes da educação tradicional, pois exige outro conteúdo, expulsão do obscurecimento, exercício de responsabilidade, autonomia, mediante constante busca, nunca por doação (FREIRE, 1987).
Freire (1987) é enfático ao afirmar que não se deve narrar sobre uma situação existencial concreta, que conteúdos sem relação com os interesses dos estudantes não devem ser dados. Acredita que a verdadeira educação apenas se estabelece mediante o diálogo implicado em um pensar crítico e em temas advindos de um universo vinculado a realidade concreta. O universo temático, ou seja, aquilo que se pensa da realidade, assume importância central no processo e é base para compor o conteúdo programático (Figura 1).
Figura 1. Esquema da pedagogia freireana.
Fonte: Organizada por Oliveira (2020).
O universo temático, tanto para o desenvolvimento do saber quanto da ação, é dependente de um ato investigativo interdisciplinar para o alcance dos temas geradores, segundo uma metodologia conscientizadora. Esta se desenvolve por etapas: a realidade é decodificada, ciclicamente discutida, as contradições são evidenciadas, codificações ou representações da realidade para geração de nova percepção e conhecimento são elaboradas, novas decodificações e diálogos são realizados e o programa é finalmente elaborado, com produção de material didático.
Portanto, definidos os temas gerados, na prática pedagógica, os conteúdos não são dissertados pelo professor, problemas são propostos e, junto aos alunos, realiza-se a decodificação da situação existencial concreta, ou seja, dos temas geradores. Essa decodificação se faz mediante a mesma metodologia conscientizadora utilizada para a investigação temática, com ponto de partida na visão da totalidade crítica, seguindo para uma divisão em partes do contexto em estudo, para então, retornar à totalidade. É fundamental o reconhecimento dos sujeitos na situação existencial concreta e o reconhecimento do objeto em que está o sujeito. Deste modo, acredita-se alcançar a percepção crítica do concreto, ou da realidade existencial e, por conseguinte, novo postura, também, crítica.
Percebemos nesta proposição pedagógica que o eixo principal dos conteúdos encontra-se nas questões inerentes aos espaços de vivência do estudante, o que possibilita a compreensão das relações socioespaciais nas quais encontra-se inserido, das relações de poder que estabelecem os fluxos de decisão, de conexão e desconexão relativa que configuram o espaço geográficos e conduz para a percepção crítica. Contudo, na prática, dificuldades são encontradas, pois há um programa a ser cumprido, conteúdos são previamente elencados, mas abordá-los segundo uma metodologia conscientizadora e torná-los significativos é possível.
Neste ponto, acreditamos que o mapeamento participativo, enquanto “fruto do protagonismo social das identidades coletivas que ao fornecerem a descrição possível da realidade física e social do território, fazem com que eles se reconheçam e se sintam apoderados politicamente do mapa produzido” (LIMA E COSTA, 2012, p. 107), pela elaboração do mapa mental, pode proporcionar o trabalho com a codificação e decodificação da realidade a partir de questões temáticas concretas vinculadas aos conteúdos, promover a autoria, a autonomia, o diálogo, a parceria, a elaboração crítica-reflexiva do saber, a emancipação, a instrumentalização para uma prática social libertadora.
O mapa mental ou cognitivo é “construído a partir de um acervo de conhecimentos e contém informações sobre relações espaciais, atributos e dados ambientais que residem dentro de um contexto espaço-temporal que permite ao possuidor agir dentro de um ambiente e processar dados ambientais e geográficos” (KITCHIN, 1994, p. 03, tradução nossa). Porquanto, compreendemos assim que os mapas mentais são dotados de significados, são dinâmicos, funcionais e pedagogicamente ricos. Para Kitchin (1994), assim como para nós, o mapa cognitivo permite interação entre os indivíduos, seus territórios e os pesquisadores. Acrescentemos os professores. Em sala de aula, favorece o trabalho com assuntos socialmente relevantes para os estudantes, relações mais horizontais entre professores e estudantes, exerce múltiplas funções ao proporcionar o aprendizado cartográfico, geográfico, político, econômico, social e cultural.
Neste intento, executamos uma sequência didática que partiu de uma abordagem teórico-reflexiva, com base em textos previamente disponibilizados, para em seguida desenvolvermos o mapeamento mental participativo, o que suscitou novas reflexões promovidas pelo diálogo e respostas obtidas em questionários diagnóstico-avaliativos e diários de itinerância. Na prática do mapeamento, visando a promoção do processo participativo em todas as etapas da atividade, iniciamos com a escolha do tema e do recorte espacial.
O uso, cobertura da Terra e problemas ambientais urbanos no entorno das instalações da própria universidade foram o tema problematizado e o recorte espacial definidos pelo grupo. Entretanto, durante a prática do mapeamento o foco foi direcionado para a representação dos elementos contidos neste recorte espacial. Disponibilizamos papel metro e lápis de cor, mas os discentes, organizados em 03 (três) subgrupos compostos por 4 (quatro) ou 5 (cinco) integrantes, escolheram utilizar folha de papel tamanho A4 e lápis grafite, para elaborarem seus mapas mentais (Figura 2).
Figura 2. Mapas mentais participativos.
Fonte: Elaborado pelos participantes do curso de extensão (2018).
Nos chamou a atenção a dificuldade na inicialização do mapeamento. A relação de dependência entre o dizer do professor e o fazer do aluno se tornou evidente nesta primeira prática. O ímpeto tradicional, enquanto professor, é o de professar modos de fazer e, o dos estudantes, o de fazer segundo a profecia. Contudo, assumindo a posição de mediador, deixamos o grupo discutir e agir sem intervenções e, apenas com o avançar das dificuldades, induzimos a exploração particular das construções mentais cognitivas, incentivamos a criatividade e a reflexão geocartográfica, com maior isenção possível. Uma intervenção em maior grau conduziria o processo para um fazer demasiadamente orientado. Perderíamos o essencial da nossa busca, a situação dos conhecimentos cartográficos do grupo, bem como as percepções em relação à área delimitada, a autoria e protagonismo do mapeamento cognitivo e suas implicações formativas.
Muitos participantes declararam sentimento de surpresa com as dificuldades encontradas na elaboração do mapa mental, de início considerado simples. Segundo Simielli (2008, p. 105) a dificuldade na elaboração do mapa mental “está em se conseguir chegar a uma representação que dê clareza de conjunto, complexidade e número de fatos legíveis. É uma arte simples e de difícil expressão figurativa”. Neste aspecto, o grupo citou como maiores problemas a localização dos elementos geográficos, a posição relativa desses elementos, a proporção dos objetos para caber no papel e o ponto de vista adotado para a representação, ou seja, as relações projetivas.
Além das dificuldades, as vantagens, as potencialidades do mapeamento participativo com base em mapa mental para o ensino-aprendizagem e formação geográfica, bem como a possibilidade de aplicação dessa atividade na futura prática docente dos licenciandos foram elementos explorados nas discussões e nos questionários diagnóstico-avaliativos. O Quadro 1 resume as respostas obtidas. Já a dificuldade de leitura do espaço geográfico é dependente de bases teórico-conceituais.
Quadro 1. Diagnóstico do grupo sobre o mapeamento participativo com base em mapa mental.
Elementos | Reflexão/Depoimentos |
Vantagens | Conhecer a área, observar a configuração do espaço geográfico no cotidiano, buscar localizar os marcos referenciais, troca de conhecimento |
Dificuldades | Escala, simbologia/legenda, localização, orientação dos objetos, consenso do grupo. |
Potencialidades para o ensino-aprendizagem | Autoria cartográfica, pertencimento ao lugar, aguçamento da observação e análise da paisagem, superação de dificuldades, trabalho com múltiplos conteúdos. |
Fragilidades para o ensino-aprendizagem | Falta de conhecimento cartográfico, não conhecer o local a ser mapeado. |
Importância para a formação | Proporcionou a aprendizagem, a percepção de fragilidades formativas, aplicação dos conhecimentos cartográficos e o conhecimento de dificuldades que irão auxiliar no planejamento futuro de aulas. |
Adoção em futura prática docente | Viável: aluno construtor do conhecimento e com livre expressão da criatividade, partir do lugar de vivência para a aprendizagem geocartográfica, possibilidade de abordar diferentes conteúdos. |
Fonte: Organizado por Oliveira (2019).
Graficamente, constatamos variação na densidade dos elementos representados, pequena dificuldade com as relações projetivas, predominância no uso de figuras geométricas regulares, de rótulos para identificar os elementos representados e ocorrência de símbolos sem identificação. Questionados sobre a escolha das figuras geométricas, responderam ser proveniente de orientações em práticas anteriores, como forma de facilitar a representação. Embora esta possa ser uma estratégia a ser adotada, a impessoalidade, a homogeneização, e a padronização se fez latente nessas representações. O que visualizamos como ruptura da criatividade, do elo para uma expressão peculiar, para o proporcionar uma leitura mais fluida e interativa com uso de símbolos próprios, representativos do espaço real.
Sugerimos a troca dos mapas entre os subgrupos para proporcionar a sua análise entre os pares. Indagados sobre os elementos facilitadores da leitura, citaram as vias de acesso BR 101 e BA 233, a UNEB, o shopping, o fórum, as formas dos objetos representados e os rótulos identificadores dos objetos. Quanto as dificuldades na leitura, citaram dimensão dos objetos, posição das ruas e distâncias, mas os elementos cartográficos essenciais para que a função comunicativa fosse estabelecida não foram citados.
Claramente, o pensar a representação para a leitura do outro foi pouco considerado. Em nenhum mapa mental houve a elaboração de legenda, por entenderem que os rótulos seriam suficientes para a sua compreensão. Entretanto, houve o uso de símbolos sem rótulos e, mesmo nesta condição, nenhuma referência a ausência da legenda foi feita. Também o título, elemento fundamental para localização e indicação do que está sendo representado, foi inserido em apenas um dos mapas mentais e, mesmo assim, situou parcialmente o fenômeno.
Identificamos a total ausência dos problemas ambientais urbanos nos mapas mentais. Nas discussões que antecederam o mapeamento foram identificados como problemas ambientais a poluição do canal hídrico por esgoto doméstico, a ausência de mata ciliar, obras de retificação e canalização da drenagem natural, inundações e disposição de lixo em local inadequado. A ausência desses elementos foi justificada pela dificuldade sentida para representá-los. Compreendemos que o como fazer segundo uma atitude autoral, autônoma, criativa foi, provavelmente, limitado pelo receio de errar e pela falta do costume de fazê-lo.
Quanto aos elementos de percepção, esta atividade de automapeamento resgatou lembranças e revelou, que marcos específicos foram estabelecidos no acervo mental. São seleções de impressões sensoriais, a exemplo das instituições, das vias de acesso, usos e coberturas variados, por estarem muito presentes no deslocamento cotidiano. Bem como memórias afetivas, o que demonstrou ligações emocionais de grande importância para a construção do acervo de conhecimento relacionado ao espaço vivido.
As leituras geográficas foram direcionadas para aspectos vinculados à produção do espaço urbano, seus agentes e a segregação socioespacial e suas implicações para os problemas ambientais urbanos. A observação da paisagem é tida por Corrêa (2005) como a primeira forma de apreensão do espaço geográfico, revela diferenças e justaposições, expressa fragmentação e articulação. Santos (2006, p. 121) admite que “Os fixos e fluxos, interagindo, expressam a realidade geográfica e é desse modo que conjuntamente aparecem como um objeto possível para a Geografia”. De modo que, diferenças e justaposições são, sobretudo, evidenciadas pelos fixos, objetos presentes no espaço. A articulação é manifestada empiricamente pelo fluxo de pessoas, de carros, de mercadorias, etc., e menos visível pela circulação de decisões, investimentos, renda, ideologia, relações de poder. Esses aspectos associados às características naturais da área foram discutidos e analisados.
Ao final, um mapa integrador, elaborado por todo o grupo foi proposto (Figura 3) com finalidade de gerar um resultado que agregasse as questões geocartográficas teóricas vistas. Cabe destacar que, enquanto caráter formativo, com base nos mapas mentais elaborados pelos grupos, foi realizada uma discussão sobre os elementos do mapa (título, legenda, orientação e fonte), a sua importância e a necessidade de trabalhar o conhecimento sistemático alinhado aos conhecimentos prévios dos alunos.
Com este resultado, embora ainda permaneçam aspectos a serem trabalhados, consideramos ter havido consideráveis ganhos geocartográficos conceituais e procedimentais. Um rico momento de permuta de informações e de aprendizado foi proporcionado. O reflexo disso foi a apresentação de um mapa com mais objetos, maior cuidado com a localização, proporção e simbologia, presença de elementos do mapa mesmo com a manutenção de alguns enganos e representação de alguns problemas ambientais.
A troca de informação estabelecida em um processo de mapeamento participativo e um direcionamento pedagógico dialogado e voltado para a codificação e decodificação da realidade concreta foram vistos pelo grupo como enriquecedores e promotores de leituras mais profundas e de uma representação mais fiel em relação ao espaço real. Nos diários de itinerância comentários reforçaram essa constatação: “Essa atividade em grupo contou com diversos pontos de vista dos integrantes, o que foi bastante interessante, pois um mesmo espaço pode conter diferentes perspectivas e olhares” (Participante 02); “Dificuldade de lembrar de todos os detalhes do entorno e a facilidade de ser em grupo. Mais cabeças, mais detalhes lembrados” (Participante 04).
Houve o reconhecimento de que, com o mapeamento participativo, a consolidação dos conteúdos e processos ocorreu com maior facilidade, motivada pelas autorias, trocas e reflexões em grupo. Por outro lado, colocou em debate a tradicional relação professor-aluno, o cerceamento da autonomia e da criatividade, as atividades que reforçam a reprodução e a memorização, o distanciamento entre conteúdo, realidade e prática, no decorrer do processo formativo.
Ao longo das nossas discussões, o mapeamento participativo foi reconhecido pelo grupo como uma possibilidade real de superação do reducionismo das representações cartesianas e das representações como instrumento de dominação e manipulação, uma metodologia adequada para formar indivíduos capazes de compreender o mapa além da cópia, de conjugar o conhecimento do espaço de vivência com o conhecimento científico, útil para conhecer como os estudantes fazem suas relações cognitivas para apreensão do espaço geográfico, de promover uma educação engajada com a realidade, potencialmente promotora de transformação social.
Considerações finais
A percepção crítica do conteúdo, o ensino-aprendizado para a prática social conferem ao mapeamento participativo a necessidade de referências pedagógicas que busquem a implicação dos discentes no seu próprio processo formativo, a não marginalidade historicamente instituída no processo educacional, em consonância com a manutenção das contradições próprias de um sistema econômico e social que privilegia classes e acirra desigualdades. Neste contexto, os princípios da pedagogia freireana mostraram-se adequados.
Constatamos com os nossos resultados que o mapeamento participativo para a formação docente promove a democratização do saber. Pode se ajustar a práticas educacionais voltadas para diversas faixas etárias, em diferentes contextos e para abordar diversos temas, em instituições com poucos recursos financeiros e físico-estruturais, pois demandaria apenas papel, lápis, habilidade e conhecimento do profissional da educação.
A nossa experiência demonstrou que, o mapeamento participativo associado aos princípios freireanos e a PAP, valoriza e implica os discentes, assim como o docente, no seu próprio processo formativo. Assim, o grupo participante do curso de extensão considerou que o mapa mental proporciona a emancipação do estudante, no momento em que o liberta dos padrões tradicionais, o constitui produtor de conhecimento, expressa a sua visão de mundo, se torna um veículo para o estabelecimento do raciocínio geográfico, supera a reprodução do saber sistematizado, conjuga o saber do aluno ao científico possibilitando a elaboração de um conhecimento significativo e socialmente transformador.
Referências
BASTIDAS, Elena P.; GONZALES, Carlos A. Social Cartography as a Tool for Conflict Analysis and Resolution: The Experience of the Afro-Colombian Communities of Robles. Peace and Conflict, v. 15, n. 2, p. 1-14. 2009. Disponível em: https://nsuworks.nova.edu/pcs/vol15/iss2/1. Acesso em: 05 abr. 2019.
BAUM, Fran.; MACDOUGALL, Colin.; SMITH, Danielli. Participatory action research. Journal of Epidemiology & Community. Journal of Epidemiology & Community Health, v. 60, p. 854-857, 2006. DOI:http://dx.doi.org/10.1136/jech.2004.028662. Disponível em: https://jech.bmj.com/content/60/10/854. Acesso em: 15 agos. 2018.
CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. São Paulo: Editora Ática, 2005.
DELORS, Jacques. Educação: Um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. Brasília: UNESCO 2010.
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FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 12 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
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GATTI, Bernadete A. Formação de Professores: condições e problemas atuais. Revista Internacional de Formação de Professores, v. 1, n. 2, p. 161-171, 2016. Fonte: https://periodicos.itp.ifsp.edu.br/index.php/RIFP/article/view/347.
KINDON, Sara; ELWOOD, Sara. Introduction: More than Methods—Reflections on Participatory Action Research in Geographic Teaching, Learning and Research. Journal of Geography in Higher Education, v. 33, n. 1, p. 19-32, 2009. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/03098260802276474. Acesso em: 20 agos 2018.
KITCHIN, Robert M. Cognitive maps: What are they and why study them? Journal of Environmental Psychology, v. 14, n. 1, p. 1-9, 1994. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S027249440580194X. Acesso em: 15 nov 2018.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2013.
LIMA, Marcos Vinícios da Costa; COSTA, Solange Maria Gayoso da. Cartografia social das crianças e adolescentes ribeirinhas/quilombolas da Amazônia. Revista Geografares, v. 12, p. 76-113, 2012. DOI: https://doi.org/10.7147/GEO12.3189. Disponível em: http://www.periodicos.ufes.br/geografares/article/view/3189. Acesso em: 16 out 2018.
NÓVOA, Antônio. Formação de professores e profissão docente. In: Nóvoa, Antônio. Os professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, p. 13-33, 1992.
SANTOS, Milton. A natureza do Espaço: Tempo e Técnica, Razão e Emoção. São Paulo: Edusp, 2006.
SAVIANI, D. Escola e Democracia. Campinas, São Paulo: Autores Associado, 2012.
Achei muito interessante o relato, digo, sem dúvidas foi muito lindo de se ler. Minha pergunta vai no sentido se esse mapa mental pode ser utilizado em séries do ensino médio, trabalhando outros temas como população, climatologia ou urbana. Digo, é possível a reaplicação deste mapa com outra temática?
ResponderExcluirObrigada Jerfeson. Posso te garantir que foi lindo participar dessa construção. A linguagem cartográfica é um caminho para se conhecer o espaço geográfico e o mapa mental é a forma mais simples de representação. Dispensa o conhecimento especializado da cartografia para a sua elaboração e requer recursos simples, como uma folha de papel, um lápis, até mesmo o chão e um graveto podem ser utilizados. É um desenho feito à mão livre, cujo conteúdo demonstra os registro mentais de conteúdos físicos, ambientais, socioeconômicos, simbólicos que as pessoas possuem do seu espaço de vivência. O mapa mental, inclusive, é a modalidade de mapeamento mais utilizada em mapeamentos participativos.
ExcluirAssim sendo, pode ser elaborado por crianças, jovens, adultos, idosos, sobre inúmeros temas, em diversas áreas do conhecimento. Pensemos um pouco nessas possibilidades: disposição de lixo, focos de vetores transmissores da dengue, buracos em pavimentações, poluição hídrica, poluição sonora, ensino - pela localização das instituições por exemplo, manifestações culturais, conflitos de usos do solo e dos recursos naturais, delimitação de territórios tradicionais... São inúmeras as possibilidades. Tudo que é geográfico é mapeável.
O cuidado no uso do mapa mental no ensino-aprendizagem está em garantir a sua finalidade pedagógica. Independente do tema é necessário ter os objetivos muito bem vinculados aos conteúdos e procedimentos, para que este não se torne um mero desenho; utilizar o mapa não como um recursos complementar, mas como o meio de resgaste e compreensão das memórias geoespaciais dos seus elaboradores, estabelecendo as devidas relações com as teorias.
Sou formada em geografia e quando leio dicas assim fico super atenta para pegar e usufruir nas minhas atividades. Entendo que cartografar o território, seja ele a sala de aula ou um espaço maior é muito simbólico e faz muito sentido para quem está aprendendo sobre algum tema! Particularmente os mapas mentais me ajudam muito quando busco dinamizar as aulas e quando busco direcionar melhor os assuntos. Enfim, não tenho perguntas para vocês, mas passo aqui para parabenizar o trabalho e meio para colocar uma reflexão, pois me interessou a parte que vocês registram que "é importante que os conteúdos não sejam dissertados pelo professor, e que os problemas sejam propostos e, ou junto aos alunos"- Dessa situação, penso aqui na importância dessa chamada da emancipação e protagonismo, ainda mais quando, nem nós mesmos, professores, nos colocamos como pessoas emancipadas e/ou protagonistas na educação; Outra coisa que vejo é, os mapas mentais talvez ajudem a dinamizar o tempo, pois em algumas situações a temporalidade da sala de aula é muito curta e atrapalha demais no processo de ensino-aprendizagem.
ResponderExcluirOlá, Iassana. Muito obrigada. A cartografia é uma linguagem nata da Geografia. Infelizmente, dificuldades sentidas no ensino-aprendizagem dos conteúdos cartográficos, não raras, resultam em poucos usos da cartografia nas aulas de geográfica. Comumente, vê-se cartografia pontualmente. Contudo, a linguagem cartográfica pode e deve auxiliar ativamente a elaboração do raciocínio geográfico. Vejo como uma questão formativa e de autobusca.
ExcluirParabéns pela inserção dos mapas mentais em sua prática pedagógica. Certamente, é um alinhado em relação ao curto tempo disponível para as aulas. Pode ser feito em classe ou fara dela. Sugiro experimentar o mapeamento participativo, os ganhos são inúmeros: troca de saberes, maior entrosamento dos participantes, iniciativas de colaboração, potencialização do aprendizado, fomento ao diálogo, maior autonomia...
Através dos mapas, e em uma condução participativa, estabelecemos uma postura horizontalizada com os estudantes, partimos de temas de interesse coletivo e vinculados à realidade objetiva. O que significa dizer que superamos as práticas tradicionais de memorização e dissertação de conteúdos, fomentamos a autoria, o protagonismo. É um desafio. Como você bem colocou, os próprios professores têm dificuldades com autoria, protagonismo e autonomia. Passamos por um processo formativo tradicional e nossas práticas refletem esse processo. Mas, como nos diz Behrens (2007, p. 441) “os paradigmas determinam as concepções que os professores apresentam sobre a visão de mundo, de sociedade, de homem e da própria prática pedagógica que desenvolvem em sala de aula”, entretanto a referida autora ressalta que a influência exercida pelo paradigma da formação do docente não é determinante, visto que, ao longo da trajetória profissional, o professor pode ter suas tendências pedagógicas modificadas. Lembremos que vivemos um momento de mudança de paradigmas e os nossos atos revelam as nossas concepções.
Anotei aqui q bibliografia que vocês sugeriram. Vou me inteirar sobre os mapas participativos. Vale a pena demais trabalhar essa questão da coletividade e democracia. Gostei muito da temática de vocês.
ExcluirQue relato maravilhoso!! Quando vi o tema a ser discutido fiquei curiosa e instigada a ler. Leciono Geografia no Ensino Médio e vejo este relato como uma oportunidade para implementar novas ferramentas em sala de aula. Quando trouxe a questão do mapeamento participativo, logo recordei da discussão abordada por Acselrad sobre cartografia social, na qual busca romper com as hierarquizações estabelecidas no mapeamento oficial e instrumentalizar as comunidades tradicionais e indígenas no mapeamento dos seus territórios de vida. Percebo neste relato que os alunos (as) tiveram acesso aos fundamentos básicos da cartografia a partir de uma perspectiva que parte da sua experiência com o entorno, o que proporciona um olhar crítico a respeito da sua realidade. Minha questão é se utilizaram alguma ferramenta tecnológica como base para a elaboração do croqui? Parabéns a todos(as) envolvidos (as)!!
ResponderExcluirBom dia Eline,
ExcluirAgradeço o interesse.
Precisamos nos apropriar mais da linguagem cartográfica, trazê-la para um espaço metodológico, não apenas de suporte para o ensino-aprendizagem. Os mapas vêm ganhando muita relevância no cenário das lutas sociais, territoriais, ambientais, culturais...
Acselrad é, sem dúvidas, uma referência na Cartografia Social. Assim como os trabalhos coordenados pelo professor Alfredo Wagner, vinculado ao Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia e tantos outros estudos dessa natureza que se multiplicam no nosso país.
O mapeamento participativo com base em mapa mental não requer o uso de nenhuma tecnologia, nem mesmo de conhecimento cartográfico. Por sua simplicidade, facilidade de elaboração, não requerer infraestrutura e recursos financeiros, tem sido a modalidade mais aplicada para explorar diversos temas e em diferentes contextos. Outras modalidades de mapeamento podem ser realizadas, inclusive com uso de Sistema de Informações Geográficas (SIG). Mas, para isso o mediado precisa dominar os conhecimentos dessa área, ter o suporte adequado, realizar treinamento e possuir uma finalidade que justifique o seu uso.
No relato apresentado neste evento abordamos apenas o mapa mental, mas o nosso trabalho avançou para o mapeamento participativo com base em carta imagem, com dispositivos móveis em trabalho de campo e com o uso de SIG. Todos desenvolvidos com muito êxito.
Olá, professora Ana Isabel. Tudo bem?
ResponderExcluirDesde o primeiro contato com o relato de vocês fiquei extremamente envolvido com a potência dessa experiência na formação de professores de Geografia, demonstrando que o ensino-aprendizagem de cartografia pode e deve ser construído nas potencialidades do diálogo problematizador sobre a realidade concreta vivida por homens e mulheres, seja no campo ou na cidade.
Como professor de Geografia da educação profissional e tecnológica, sua experiência relatada me provocou a pensar sobre como as práticas pedagógicas lastreadas no pensamento freireano, de aproximação com o "outro" como sujeito cognoscente e reconhecendo o "território de vida", podem contribuir para a atuação dos futuros professores no ensino médio integrado (tanto nas redes estaduais e federal), de modo a romper as cisões entre o saber técnico, o saber propedêutico e, acrescento, os saberes locais. Mas poderia ser também na Educação do Campo, na Educação Quilombola etc.
Embora as diversas modalidades da educação básica não tenham sido transversalmente tratadas nas licenciaturas com a "força" que se faz necessário, neste caso, destaco a Educação Profissional, experiências como a de vocês nos mostram outros caminhos possíveis.
Nesse sentido, há intenções ou outras ações de vocês no sentido de potencializar a riqueza das metodologias participativas na formação de professor, inclusive para este aprofundar a compreensão sobre a relação entre comunidade e escola na prática educativa (escolar)?
Outra coisa que fiquei curioso, considerando que a pesquisa está fundamentada nos pressupostos da pesquisa-ação participativa - PAP, é se esta foi vista por vocês e os estudantes apenas na perspectiva metodológica da pesquisa ou, indiretamente, também como um tempo/espaço formativo para o futuro professor-pesquisador?
Forte abraço!
Heron Ferreira Souza
Bom dia, professor Heron.
ExcluirObrigada. Estamos muito animados com a receptividade do trabalho. A visão externa positiva reforça a potencialidade do que estamos desenvolvendo a nível de estudos do doutorado e que deverá alicerçar, em breve, um projeto de pesquisa e extensão universitária.
Trabalhar com os fundamentos da Cartografia Social é desafiador, nos tira de um histórico fazer docente e formativo, abala nossas estruturas de pensamento e organização, nos apresenta o novo na medida em que horizontaliza as relações, aproxima pessoas e diferentes saberes, instrumentaliza (como concebido por Saviani) para o protagonismo social e fomenta a consciência crítica defendida por Freire. Ao mesmo tempo, muito prazeroso, ao constatar a força do protagonismo proporcionada pela cartografia social na educação.
O objetivo maior (já alcançado) do nosso estudo foi desenvolver uma metodologia para a formação de professores de Geografia. Durante o processo, os estudantes tiveram contato com os fundamentos do mapeamento participativo, da pedagogia crítica e da PAP, ao mesmo tempo que os colocaram em prática. E, conforme comentário anteriormente feito, o relato apresentado neste evento aborda apenas o mapa mental, mas o nosso trabalho avançou para o mapeamento participativo com base em carta imagem, com dispositivos móveis em trabalho de campo e com o uso de SIG. Essa progressão em níveis foi muito bem vista pelos discentes e abre espaço para a democratização no uso pedagógico da metodologia, tendo em vista que pode ser adequada às condições reais de trabalho do docente. A inserção da comunidade será um novo passo, diante da sistematização metodológica realizada.
Muito interessante o trabalho e de extrema importância enquanto instrumento didático-pedagógico. Gostaria de saber se vocês identificaram, nos cursistas, as possibilidades de utilização desta ferramenta no cotidiano escolar? E como implementar sob diferentes contextos escolares(MAria Auxiliadora Freitas dos Santos)
ResponderExcluirOlá, Maria Auxiliadora. Obrigada. Sim, alguns participantes do curso já exerciam a docência e houve a aplicação da metodologia em uma turma de Educação de Jovens e Adultos. O relato foi de ter despertado muito interesse dos estudantes, os quais se envolveram e se empolgaram com a atividade e realizam novas leituras do seu espaço de vivência. O como implementar requer ação simples, partindo de um conhecimento básico sobre mapa mental, articulada a problematização da realidade concreta a ser mapeada e aos conteúdos a serem trabalhados. Isso é possível para uma grande diversidade de disciplinas, conteúdos e escalas geográficas. Uma boa indicação inicial de leitura é: Richter, D. (2011). O mapa mental no ensino de Geografia: concepções e propostas para o trabalho docente. São Paulo: Cultura Acadêmica
ExcluirParabéns pelo lindo trabalho! Primeiro, gostaria de dizer que toda e qualquer proposta que busca trabalhar as habilidades espaciais, ajudam a desenvolver o pensamento espacial dos alunos. Segundo, tenho uma duvida: No desenvolvimento do trabalho, vocês alegam ter feito uma sequencia didática, esta sequencia é com base na sequencia didática de Sonia Castellar?
ResponderExcluirNovamente quero Parabenizar pelo trabalho! forte abraço.
Boa tarde, Bruno. Bom saber que você gostou do trabalho. Sim, vamos bem no sentido da concepção de Castellar. Promover uma aprendizagem significativa na qual o estudante é responsável pela construção do seu conhecimento. Isso, sem esquecer o papel de condução do professor. Exploramos aí o potencial de protagonismo inerente ao mapeamento participativo.
ExcluirNão apresentamos a sequência didática elaborada, neste trabalho, pela limitação no número de páginas, mas propomos estratégia didática para organização do ensino-aprendizagem que venha a utilizar a o mapa mental e outras modalidades de mapeamento participativo. Em termos gerais, foram traçados cinco momentos: partimos da investigação participativa do tema, seguindo para a problematização, codificação/decodificação da situação concreta, percepção crítica do concreto, finalizando com a conscientização/prática social.
Olá, professora Ana Isabel. Tudo bem?
ResponderExcluirMe traz enorme alegria a leitura do deste relato. São muitas as contribuições que este trabalho pode trazer no processo de formação dos professores, repercuntindo em práticas educativas capazes de explorar o potencial formativo que a Cartografia possui. Sou professora de Geografia e pesquisadora do Programa de Mestrado em Educação Profissional e Tecnológica. onde venho tentando exatamente explorar a contribuição do ensino aprendizagem da Cartografia para a formação omnilateral, consiederando que o dominio da linguagem Cartográfica é fundamental para autonomia/emancipação humana, sobretudo quando desenvolda por meio de praticas pariticipativas como as narrada em seu trabalho. Obrigada pela contribuição.
Marta Verônica Correia de Souza
Olá, professora Marta. Me sinto feliz com o seu depoimento. Precisamos nos apropriar da linguagem cartográfica na Geografia. Digo que ela é a nossa língua mãe. Estamos vendo uma aproximação profícua da Cartografia com as pessoas, seja por causa dos avanços informacionais, seja por uma mudança teórico-metodológica no próprio corpo do conhecimento cartográfico, que passa a agregar o conhecimento popular, não normatizado, nas representações espaciais. O automapeamento vem ganhando força nos espaços de lutas sociais e precisa ganhar força nas práticas pedagógicas. A partir dele é possível trabalhar questões sócias, políticas, ambientais, culturais com base na realidade concreta e correlacionar o saber popular ao saber sistematizado.
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