COMUNIDADES QUILOMBOLAS, ANTIRRACISMO E MOSTRA DE HUMANIDADES
Magno Augusto Job de Andrade. CBTE. E-mail: magno.job@outlook.com;
1 INTRODUÇÃO
A nossa história
também é uma história do branco privilegiado para o branco privilegiado, não
importa se aja ou não alguma contradição entre a raça genotípica e a raça
fenotípica, ou entre as aparências e as realidades. (FERNANDES, 2007).
Ao ser trabalhado em sala de aula os Pioneiros
da Sociologia Brasileira e os principais problemas sociais destacados pelos
autores, um dos temas evidenciado pelos discentes foi o racismo e a integração
do negro na sociedade brasileira, com base em autores como Fernandes (2007);
Ianni (1974).
Após essa temática, o assunto sobre racismo no
Brasil ficou recorrente em sala, no intervalo, nos corredores, entre os alunos.
Para dar continuidade, selecionamos realizar uma ação antirracista. Conforme a
frase atribuída a Angela Davis, professora e filósofa estado-unidense, “numa sociedade racista, não basta não ser
racista, é necessário ser antirracista”. Entender, conforme Veyzon
Muniz (2019), o “antirracismo como abordagem
humanista, paritária e igualitária de base constitucional, defende-se sua
aplicação em todas as políticas públicas”, nesse
caso aqui proposto, no que tange a educação.
É possível identificar
a relevância dessa ação por seus diferentes aspectos. A Lei 10.639, de 2003, assim como a Lei nº 11.645,
de 2008 (dedicada à mesma matéria alusiva aos indígenas), inseridas na
formulação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB, enfatiza a
criação de mecanismos que favoreçam a educação da sociedade brasileira para a
compreensão das relações étnico-raciais, visando a eliminação do racismo, nas
suas diferentes acepções (SOUSA; OLIVEIRA, 2016, p. 455).
Para entendermos a necessidade da criação dessas
leis e o desenvolvimento dessa ação no âmbito escolar, faz-se necessário
compreender também o racismo estrutural na sociedade brasileira. Para Almeida
(2018), a estrutura social brasileira é racista porque em todos os espaços há
negros em condição subalterna, ora por violência estrutural (ausência de direitos),
ora por violência cultural e ora por força institucional (controle policial).
Candau
e Moreira (2007) afirmam que é preciso revelar quando as diferenças vão se
tornando desigualdades. Desvelar tudo que está marcado com discriminação.
Também enfatiza a necessidade de combater as desigualdades sempre e garantir a
igualdade de oportunidade de direitos. O texto de Nilma Gomes (2005) retoma e
problematiza alguns conceitos como Identidade, Identidade Negra, Raça, Etnia,
Racismo, Etnocentrismo, Preconceito Racial, Discriminação racial, Democracia
Racial.
Nessa
perspectiva, para melhor entendimento da problemática aqui levantada, a autora
define racismo como “uma ação resultante da aversão, por vezes, do ódio, em
relação a pessoas que possuem um pertencimento racial observável por meio de
sinais, tais como: cor da pele, tipo de cabelo etc.” Ainda acrescenta que, por
outro lado, é “um conjunto de ideias e imagens referente aos grupos humanos que
acreditam na existência de raças superiores e inferiores. O racismo também
resulta da vontade de se impor uma verdade ou uma crença particular como única
e verdadeira” (GOMES, 2005, p. 52).
Não podemos perder de vista também a
interseccionalidade entre raça/cor, gênero e classe social que intercruzam em
processos discriminatórios, como tão bem nos faz refletir Kimberlé Crenshaw
(2004).
O convite a ação antirracista se faz necessário
porque diante do modo com que o racismo está presente nas relações
sociais, políticas, jurídicas e econômicas, faz com que a responsabilização
individual e institucional por atos racista, não extirpem a reprodução da
desigualdade racial.
Nesse caso, Santos (2001) nos chama a atenção para a
responsabilidade da escola na eliminação do preconceito racial e os caminhos
possíveis para ações antirracistas, possibilitando a construção do ambiente
escolar e de uma sociedade mais equitativa e democrática, ao reduzir as formas
de violência estrutural e cultural racistas.
O trabalho aqui apresentado surge a partir
de dois processos de ensino-aprendizagem desenvolvidos no Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia Baiano - IFBaiano, campus Santa Inês -BA, a
prática de ensino e de pesquisa. Essa ação inicia no momento do planejamento de
propostas na jornada pedagógica, adotada por professores das áreas de Humanas
(História, Geografia e Sociologia), intitulada I Mostra de Humanidades, e aprovada na instituição, que passou a
fazer parte do calendário acadêmico de 2019. O desdobramento da ação
desenvolvida nessa Mostra de Humanidades, do trabalho junto ao Núcleo de
Estudos Afro-Brasileiro e Indígena e ao Grupo de Pesquisa NEABI - IFBaiano,
culminou na elaboração de um projeto de pesquisa, intitulado “Quilombo
é família”: comunidades quilombolas do Vale do Jiquiriçá – BA.
Esse
relato de experiência busca descrever e analisar esses processos de
ensino-aprendizagens na produção de conhecimento e de práticas antirracistas,
construídas com os estudantes do segundo ano do Ensino Técnico Integrado ao
Médio do IFBaiano, campus Santa Inês. Como resultado dessa ação,
obteve-se uma sistematização de dados, produção de conhecimento e uma ação
antirracista com ênfase nas lutas das comunidades quilombolas no Brasil e,
especialmente, do estado da Bahia.
2 ATOS DE RESISTÊNCIA E
ANTIRRACISTAS
A I Mostra de Humanidades, desenvolvida no
período entre 02 de setembro e 19 de novembro de 2019,
teve como tema geral Terras no Brasil – disputas e conflitos.
A
proposta tinha como público-alvo envolver todos os estudantes do
segundo ano do Ensino Técnico Integrado ao Médio, junto aos professores da área
de Humanas do IFBaiano, campus Santa Inês, na produção e apresentação de salas
temáticas para a comunidade escolar.
Foram pensados, entre
os professores, seis subtemas: a questão indígena; agricultura e agrotóxicos;
reforma agrária; terra e desigualdade social no espaço urbano; quilombolas; panorama
da posse da terra no Brasil. Cada turma do segundo ano ficou responsável por um
desses temas e com um professor orientador, embora os temas fossem trabalhados
de modo transdisciplinar. Nesse relato de experiência será descrito e analisado
apenas o trabalho que foi desenvolvido com a turma do
2 ano, turma E, responsável pelo subtema “quilombolas”, com a qual estávamos envolvidos.
Para os objetivos específicos da sala Quilombolas foram traçados os seguintes pontos: fazer
um levantamento sobre a história dos quilombos no Brasil. Identificar as
comunidades quilombolas no Brasil e, especificamente, na Bahia. Os conceitos de
quilombo. As formas de trabalho e aspectos culturais. O processo de
reconhecimento do quilombo e direito à terra.
No processo de construção
foram realizadas várias etapas, como: divisão da turma em equipes de trabalho;
levantamento bibliográfico sobre comunidades quilombolas no Brasil; leitura e
fichamento dos textos selecionados a partir das inquietações e questões
levantadas pelos discentes; roda de conversa sobre quilombos com o professor
pesquisador da instituição; reflexão coletiva sobre as questões e autores
estudados; pesquisa de campo exploratória em um quilombo da região do Vale do
Jiquiriçá – BA, formulação de propostas de construção visual e textual;
execução das propostas com produção de cartazes, cenário, poemas, seminários,
coreografia, vídeo e apresentação e exposição da produção. Foram dias intensos
de trabalho que resultaram em uma sala temática formativa no processo de
ensino-aprendizagem e do ser cidadão.
O processo de construção
da ação ocorreu em sala, no período de aula de Sociologia, Geografia e História,
intensificados por aulas-extras. Também houve orientações via rede social, na
qual foi formado um grupo com todos alunos da turma para esse objetivo. Algumas
orientações e produções ocorreram inclusive nos fins de semana. Sobre a
pesquisa de campo exploratória, na comunidade quilombola em Jaguaquara, foram
realizadas duas visitas: uma somente com professores no fim de semana e, a
segunda ida a campo, com os professores e alguns alunos, para levantamento de
dados.
A organização da apresentação
da Mostra de Humanidades foi iniciada na tarde da terça-feira, dia 12 de
novembro, e a culminância se deu na manhã do dia 13 do mesmo mês e toda a
comunidade escolar foi convidada a participar. A frase, “Somos a razão da luta
dos nossos ancestrais: resistência sempre!”, foi o convite a experienciar a
sala. Vejamos alguns registros.
Figura 1 – Cartaz
para divulgação da Mostra de Humanidades |
Figura 2 – Porta
da Sala de Humanidades |
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Fonte: Acervo pessoal do autor |
Fonte: Acervo pessoal do autor |
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Figura 3 – Frase inicial para reflexão |
Figura 4 – A participação da comunidade escolar na culminância |
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Fonte: Acervo pessoal do autor |
Fonte: Acervo pessoal do autor |
A temática trabalhada foi sobre os povos quilombolas no Brasil e suas
lutas. Foi observado o desconhecimento social, a partir da comunidade escolar,
sobre essas comunidades e suas histórias, cultura, pautas e territórios. Integrava
esse pensamento refletir sobre o processo da escravidão ao racismo no Brasil.
Dessa forma, alerta Schwarcz (2007), que na metamorfose do escravo, um dos
problemas para o negro era a estrutura social brasileira, na medida em que
bloqueava sua cidadania plena.
Pensar em quilombo é lembrar que o seu surgimento
se deu como aldeias rurais em áreas de difícil acesso, como matas e grutas,
onde esses povos (que eram submetidos a trabalho escravo) se reuniam para
escapar das senzalas e buscar a liberdade. O que caracterizava os quilombos,
não era o isolamento e a fuga, mas sim a resistência e a autonomia (REIS;
GOMES, 1996).
Podemos ressaltar dois elementos
característicos dos quilombos, os deslocamentos e as práticas de resistência.
Conforme a Associação Brasileira de Antropologia – ABA, os quilombos são
“grupos que desenvolveram práticas de resistência na manutenção e reprodução de
seus modos de vida característicos num determinado lugar” (ABA, 1994).
Além
de quilombo, várias são as denominações dadas às áreas onde os quilombolas ou
comunidades quilombolas residem: terras de preto, mocambos, terras de santo,
comunidades negras rurais, remanescentes de quilombos, dentre outros. Logo,
nesse trabalho, esses termos estão sendo usados como sinônimos. (SCHMITT; TURATTI; CARVALHO, 2002).
É o Artigo 68 da Constituição Federal que
estabelece a regularização de terras das comunidades quilombolas. Essa lei foi
criada em 1988, mas só foi regularizada no ano de 2003 no período do Governo
Lula. O reconhecimento das terras que pertencem às comunidades quilombolas é
realizado por meio de órgãos como a Fundação Palmares e o Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária.
O direito a terra é concedido legalmente
aos quilombolas por meio de um processo, cuja primeira etapa é de
auto-reconhecimento, estabelecida pela legislação brasileira. Ainda assim,
menos de 7% das terras reconhecidas como pertencentes a povos remanescentes de
quilombos estão regularizadas no Brasil. Sem a certificação, esses territórios
que serviram de refúgio para negros escravizados ficam inacessíveis para
políticas públicas básicas e se tornam alvos de conflitos (ANJOS, 2017).
Conflitos esses que reforçam à discriminação, dificultam sua sobrevivência,
além de gerar atos violentos, que têm resultado na morte de vários quilombolas.
Um stand foi sobre
a comunidade quilombola Lindolfo Porto, situada no Bairro Casca, periferia da
cidade de Jaguaquara – BA, que fica a 35 km de Santa Inês, foi reconhecida pela
Fundação Palmares em 2013. Para um dos antigos quilombolas do lugar, sua
concepção de quilombo se entrelaça ao de família, o quilombo é sua família.
Então o quilombo é onde sua família estar.
3 NEGROS SIM, SENHOR
Foram elaborados dois poemas pelos alunos, que foram
recitados durante a sala temática, resultado das reflexões sobre os textos
selecionados na pesquisa e da roda de conversa com o professor Edney Conceição,
mestre em Geografia, que vem pesquisando sobre quilombo e integra o corpo
docente do IFBaiano. Para o pesquisador, pensar em quilombo perpassa a questão
negra no Brasil. O espaço dos poemas foi denominado Cantinho da Resistência.
Vejamos os poemas:
Poema 1 – Negro sim, senhor! |
Poema 2 - Quilombo |
Vamos reinar sim, senhor Se libertar sim, senhor Fazer nossa cultura sim, senhor Eu não nasci pra servir branquin Sou guerreiro valente, exímio sonhador Vamos nos esconder, se livrar No meio da mata, no topo do monte Onde os senhores não nos encontrem Vamos reconstruir nossa cultura Travar nossas batalhas Resistir, persistir, lutar, amar! Só fica escravo aquele que tem medo De morrer sobre os donos Só fica escravo aquele que se esconde nos próprios escombros; Mas nós não Fomos à luta Quebramos barreiras junto com as pretas Fizemos justiça Quem me pergunta o que quilombo é Quilombo é resistência Quem me pergunta o que quilombo é Quilombo é garra Quem me pergunta o que quilombo é Quilombo é liberdade Saúdem mamãe Dandara Nossa revolução não para Vamos reinar sim, senhor Se libertar sim, senhor Fazer nossa cultura sim, senhor NEGRO SIM, SENHOR! |
E me perguntam onde moro! Quilombo! Terra de negro! Quilombo! Refúgio do medo! Quilombo! Lá em cima, por trás daquela serra tem uma aldeia de
negro, quem me trouxer o maior número vai ganhar pra farrear o ano inteiro! Quilombo! Minha casa não se limita, a fuga, a isolamento, a
vida perto da selva Fui obrigado sim a fugir, a ir pra longe, e levei
meus irmãos comigo sim! Mas no meu Quilombo tem graça, tem autonomia, tem
resistência e temos exigências. Esse é o meu, o seu, o nosso lugar, o nosso lar,
nossa cultura irá se perpetuar, Somos descendentes de Zumbi e de Dandara, a
resistência corre nas veias e nunca morrerá. Quilombo! Esse é o nosso lugar. |
A partir desses poemas foi possível compreender
também as relações de cor ou de etno-racialidade, que segundo Sansone (2004,
p.10), a partir dos anos trinta, no Brasil, “as relações raciais centraram-se
no mito da democracia racial”. Para Sansone (2004, p.12), no Brasil, “a
identidade étnica é um constructo social de caráter contingente e que difere de
contexto para outro”. Já Poutignat e Streiff-Fenart (1998, p.24), estudando
outros contextos, levanta a problemática dos marcadores da identidade étnica
estarem relacionados a esferas objetivas e subjetivas. Na qual o termo
etnicidade designaria não só a pertença étnica, como também os sentimentos que
lhe estão associados: o sentimento de formar um povo.
Desse
modo, é preciso perceber como são construídas as relações sociais, quais
elementos são utilizados para a distinção e construção da pertença étnica em um
determinado contexto, bem como, compreender as diferenças socioeconômicas como
elementos que podem influenciar nessa estrutura social. O racismo estrutural na sociedade brasileira é “uma forma de
violência reproduzida no tecido social não mais na forma direta, mas nas formas
institucional e cultural” (ALMEIDA,
2018).
Por essa razão, além dos poemas, foram construídos stands
que abordavam diferentes pontos sobre quilombos e racismos, conceitos de
quilombo, sua cultura, trabalho, processo de titularização das terras.
No
Brasil, a estrutura racial é fundamentada por uma história construída e
disseminada sob a ótica, valores e poder dos brancos, reforçada pela ideologia
sobre a identidade nacional baseada na miscigenação harmônica das três raças,
que mascara a desigualdade racial e ajuda a mantê-la.
Nesse
caso, mesmo os “inegavelmente identificados e reconhecidos como negros” passam
pela dificuldade de se assumir negro. O estudo de Brandão (1989), ao analisar
as representações do negro a partir de retratos feitos por brancos, nos ajuda
compreender as razões pelas quais as pessoas têm dificuldades de identificar-se
ou serem identificadas como pertencentes a esse grupo social, ao constatar que,
em nossa sociedade, “não basta vê-los escuros, como eles são aos olhos claros.
É preciso torná-los disformes, algo entre o grotesco e o horrendo. [...] Eles
são em tudo o desvalor, porque ao olho que julga como Narciso, um mal do corpo
puxa o outro. Se são feios, são ameaçadores: são disformes, sujos. (BRANDÃO,
1989, p.167-168).
As
diferenças vão sendo construídas e enfatizadas no convívio social, daí as cores
da pele, a fibra do cabelo, os traços do rosto e do corpo vão ganhando valores,
vantagens e desvantagens, divisões, hierarquia, poder. Dessa forma, as
diferenças vão se tornando desigualdades, pois vão servindo de base para a
construção de uma estrutura racial de poder.
A
cor da pele, associada a representações sociais e símbolos religiosos, passa a
ter vários significados, por muitas vezes, que reforçam a posição hierárquica
das raças. O Brasil, de acordo com Fernandes (2007, p. 31-32), é um país de
história lenta, “possui a tenacidade das estruturas raciais ao mostrar-se maior
do que seria desejável”. Por essa razão, a frase em destaque, negro sim,
senhor, remete a essas nuances de afirmação de identidade em meio a luta
histórica e cotidiana.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com
a inserção do conteúdo sobre a história e cultura dos afrodescendentes na
escola e a discussão sobre ações afirmativas na sociedade, principalmente,
sobre a aprovação das cotas para estudantes negros nas universidades públicas,
a sala de aula se tornou um espaço propício para reflexão, relato de
experiências e construção de ações antirracistas.
Fernandes
(2007, p.35), ao analisar a situação do negro e do mulato no Brasil, afirma que
eles passam por uma padronização e uniformização, antes de atingir a
democracia. “Eles se perdem como raça
e como raça portadora de cultura”. No
entanto, o grande desafio para alcançar a democracia racial é que a
participação do negro seja ativa e, além disso, eles precisarão dar o que
possuem de mais criador e produtivo.
Nesse
caso, para combater o racismo estruturador das relações sociais no Brasil,
faz-se necessário uma reflexão das possíveis práticas pedagógicas de
ensino-aprendizagem na escola e para além da esfera escolar. Só compreendendo
essa lenta dinâmica social, que é possível pensar em sua transformação. A
mudança de pensamento e comportamento é essencial para um alcance crítico e
real que tenham como foco à equidade social.
Nessa
perspectiva, a ação desenvolvida na instituição escolar atendeu a seus
objetivos, quando para além de refletir e desvelar ações racistas na sociedade
brasileira, os estudantes foram ativos em desenvolver propostas antirracistas
no meio educacional, articulando ensinos e aprendizagens.
Os
estudantes não só refletiram sobre a estrutura racial brasileira, mas
pesquisaram, produziram textos e artes antirracistas, construíram uma sala
temática dando visibilidade aos quilombolas e suas lutas, e contribuíram para
uma ação prática de reflexão de toda a comunidade escolar. Essa ação
impulsionou a existência do projeto de pesquisa “Quilombo é família”:
comunidades quilombolas do Vale do Jiquiriçá – BA, que passou a ser
executado no ano de 2020.
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Parabéns pelo trabalho! Muito pertinente este momento de reflexão no espaço educacional e vê a interação de todos envolvidos. Fico muito feliz quando vejo essas produções. Observei que dentre os subtemas que vocês escolheram, um estava voltado a agricultura e agrotóxicos. Sempre que nos deparamos com comunidade quilombola, voltamos uma reflexão sobre agroecologia, vocês pensaram em ter um momento de debate sobre o uso alternativo de controle biológico, ao invés dos agrotóxicos? Como também, realizar uma pesquisa exploratória com os estudantes para conhecer o que vem sendo produzido na região e agricultura familiar?
ResponderExcluirAbraços. Rafaella Gregório de Souza.
Obrigada, Rafaella, também gostei muito da experiência que você relatou sobre quilombo urbano. Sobre os subtemas, esses se referem ao todo da Mostra de Humanidades divididos com as seis turmas de segundo ano. Cada turma ficou responsável por um desses subtemas, dentre eles, agricultura e agrotóxicos. No caso da experiência aqui relata, o foco é na turma que trabalhamos juntos, responsável pelo subtema Quilombolas. Nessa turma, com o subtema “quilombolas”, foram abordados alguns aspectos como quilombos e racismos, conceitos de quilombo, sua cultura, trabalho, processo de titularização das terras.
ExcluirNa instituição há o curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Médio e sistematicamente são realizadas visitas técnicas, programadas na semana pedagógica, com o objetivo de conhecer e contribuir com a comunidade e realidade local, entrelaçadas a essas reflexões, compondo o processo de formação. Abraços.
Cleomar Felipe Cabral Job de Andrade.
Colegas,
ResponderExcluirparabéns pelo importante e instigante trabalho. Gostei muito das reflexões e certamente farei uso delas em minhas aulas de Sociologia no IFBaiano. Ao abordar o conteúdo de Cultura e Identidade Nacional, Sociologia Brasileira ou, como vocês nomearam, Pioneiros da Sociologia Brasileira, percebo a iniciação de muitos alunos no debate racial, marcada por interesse, curiosidade e mesmo busca de referenciais e termos para abordar questões que já fazem parte do seu dia a dia. Gostaria de saber como vocês percebem a receptividade das turmas frente a esse conteúdo e quais os desafios que encontram para elaborar materiais e dinâmicas para essas aulas.
Obrigada e, mais uma vez, parabéns pelo texto.
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirObrigada, Melina. Que bom esse espaço de troca! Os desafios são múltiplos, estamos em um contexto de temporalidade aligeirada e superficial, imersos cotidianamente nos meios de comunicação virtual. Os textos teóricos requerem uma imersão e temporalidade que vão na contramão desse movimento virtual. Meu trabalho, na elaboração de materiais e dinâmicas, busca conciliar essas temporalidades e profundidades. Vale lembrar que não há receita pronta, às vezes, o que funciona em uma turma, não desperta semelhante interesse, envolvimento, reflexão e produção na outra. O que considero primordial é trabalhar os conceitos, buscando trazer para o contexto dos alunos, nesse aspecto, as rodas de conversa têm funcionado. Obrigada por sua leitura atenciosa!
ExcluirCleomar Felipe Cabral Job de Andrade.
Parabenizo as autores e o autor pelo relato. Uma lindeza de trabalho! Serviu de inspirações para pensar outras possibilidades para o ensino das ciências humanas. Muito importante essa aproximação entre a instituição e as comunidades quilombolas locais, vinculando o ensino, a pesquisa e extensão. Além disso, a importância de inserir os estudantes da Educação Básica na pesquisa para questões concretas do dia a dia. Gostaria de saber: houve "resistência" por parte de algum/alguns estudantes ao trabalhar com o tema? Como foi para eles/elas saber da existência de uma comunidade quilombola tão próxima do Campus?
ResponderExcluirOutro questão: Segundo dados publicados na SEI/2015, no Vale do Jiquiriçá temos oito comunidades quilombolas, no entanto, somente 2 são certificadas pela FCP. Seria possível a realização de atividades que ajudassem no processo de certificação dessas comunidades?
Abraços!
Aila Cristina Costa de Jesus
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ResponderExcluirObrigada Aila, você sempre dedicada em suas contribuições! Sobre as questões, eu não percebi, nem chegou ao meu conhecimento, se houve "resistência" por parte de algum/alguns estudantes ao trabalhar com o tema. Ao contrário, percebi a turma muito envolvida com a temática e com a produção de conhecimento significativo, a partir do levantamento de artigos científicos, leituras e as diferentes produções. Eles ficaram impactados ao saberem da existência de uma ou das comunidade(s) quilombola(s) tão próxima(s) do campus. Inclusive o grupo de pesquisa tem a participação de discente dessa turma. Eles questionaram sobre o quanto desconhecem esse contexto, como também sobre os processos de invisibilizações. Quando começaram a pesquisar sobre os direitos das comunidades quilombolas, o reconhecimento, o processo de titulação das terras, sobre suas lutas, se questionaram sobre: é interessante para quem não saber da existência dessas comunidades? Elementos para responder a essa pergunta apareceram nos textos levantados por eles e, sobretudo, em nossos diálogos e na roda de conversa que ocorreu com o professor Edney Conceição. Acredito que a aproximação da academia com a comunidade, conhecendo suas pautas, pode contribuir com a construção de caminhos possíveis que possibilite a garantia de direitos dessas comunidades. Abraços e obrigada! Sigamos firmes!
ResponderExcluirCleomar Felipe Cabral Job de Andrade.