EDUCAÇÃO NO CAMPO: A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO PROPOSTA PEDAGÓGICA DE VALORIZAÇÃO DA MEMÓRIA E DA LUTA DA POPULAÇÃO CAMPONESA.

 



Mônica Ferreira Pedroso. Secretaria Municipal de Educação de Paranaíba/MS. E-mail: monica_rainha@hotmail.com;
Kleide Ferreira de Jesus. Universidade Católica Dom Bosco. E-mail:  kleideferreira@hotmail.com;
Maria Ângela Pereira Pedroso. Secretaria municipal de educação de Paranaíba/MS. E-mail: mariangela_prof@hotmail.com;
Ilza Alves Pacheco. Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande/MS. E-mail: ilza.educ@gmail.com.

 

Introdução

O presente relato tem como objetivo apresentar as experiências vivenciadas no desenvolvimento do Projeto Educação no Campo: a contação de histórias como proposta pedagógica de valorização da memória e da luta da população camponesa, implantado em uma escola no campo, localizada no distrito Alto Tamandaré no município de Paranaíba/MS, em uma turma de educação infantil com crianças entre quatro e cinco anos de idade. No decorrer do projeto foi possível observar desafios e avanços da Educação do e no Campo, a experiência revela uma invisibilidade da ruralidade nas escolas do campo e o desafio de fomentar o debate em torno da educação do campo a partir de projetos pedagógicos, trazendo um novo olhar, onde a escola passa a ser vista como espaço de vida vinculada a realidade do campo, em razão dos princípios políticos pedagógicos da Educação do/no Campo. O texto estrutura-se em despontar brevemente o desenvolvimento do Projeto, como também o relato de superação e desafios dos educadores construindo juntos uma proposta que valorize a identidade cultural destas pessoas que já foram tão esquecidas e depreciadas. A escola no campo tem a particularidade de acolher alunos oriundos da zona rural, e muitos deles, com acesso restrito a livros e pouco estímulo extraescolar no que se refere à leitura. O Projeto Contação de Histórias desenvolvido com crianças de quatro e cinco anos, teve como base o princípio que é importante na fase caracterizada como infância, a escuta de bons textos, contos e histórias para a partir deles, vivenciarem sentimentos sobre situações recorrentes na sociedade em que estão inseridas, e desse modo, experimentarem sensações, refletirem sobre elas, e ao mesmo tempo, melhor resolverem seus problemas pessoais, conflitos internos e medos. Nesse sentido, as atividades realizadas propiciaram às crianças uma melhor percepção do cotidiano onde vivem, contribuindo em sua leitura de mundo.
Este trabalho teve como meta trazer a contação de histórias, por ser uma linguagem alegre e dinâmica, como uma possibilidade de restaurar a cultura local. As riquezas culturais recuperadas por meio da contação de histórias, podem enriquecer o processo de aprendizagem a partir de ações que as contemplem. Ao redor de uma mesa, ou aquecidos por um fogão a lenha, os familiares ouviam atentamente as experiências de vida dos mais velhos, transformadas em histórias. As gerações que nos antecederam, tiveram a oportunidade de viver estes momentos de aconchego, de sentir os aromas no ar, onde havia intimidade com as palavras. Eram histórias carregadas de personagens e imagens, com a musicalidade das vozes que se alternavam, pela magia que envolvia o círculo familiar. A prática de reunir a família para contar histórias e conversar, era um hábito comum nos lares, um legado quase desaparecido, mas que, em alguns círculos familiares as rodas de prosa bravamente ainda resistem ao apelo fácil das mídias.

Desenvolvimento

A contação de histórias, traz à tona lembranças das tradicionais rodas de conversa, estimula a reflexão sobre a importância das raízes culturais como afirmativas de identidade e pertencimento ao seu lugar, mantém viva a memória e as origens, aproxima diferentes gerações, traz a possibilidade de redescobrir o sentimento de identidade das comunidades que partilham os mesmos modos de vida, que juntos construíram a cultura local.
O projeto foi planejado, executado e avaliado de forma colaborativa entre a coordenadora da escola, professora regente da turma e professora de aulas complementares das disciplinas de arte e movimento, as quais conduziram todo o processo, o Projeto envolveu ainda toda a comunidade escolar, pais/responsáveis perpassando assim os muros da escola. A elaboração do projeto teve como destaque a importância da oralização de histórias e o prazer da audição das mesmas, uma vez que o incentivo à leitura conduz a autoestima, desenvolve a imaginação, criatividade e atenção, eliminando preconceitos, enriquecendo e ampliando o vocabulário do ouvinte. O trabalho pedagógico com a contação de histórias potencializa e cultiva a sensibilidade do ouvinte, somando-se a possibilidade da criança se identificar por meio da ação dos personagens, na resolução dos seus problemas e conflitos na vida cotidiana.
O trabalho pedagógico com a contação de histórias, segundo Abramovich (1991), é importante porque para a criança tornar-se uma leitora, o primeiro passo é ouvir histórias. Portanto, é possível ressaltar que o primeiro contato da criança com as histórias é pela oralidade por intermédio de outras pessoas. Nesta perspectiva, a partir da contação de história, a criança por não estar vendo imagens, é capaz de se aventurar no mundo do ‘faz-de-conta’, que é um território importante para a infância.
Ressaltamos ainda, que para contar uma história é essencial saber como se faz, nela se descobrem palavras novas, se entra em contato com a sonoridade das frases, da música, e dos nomes, aprende o ritmo do conto, despontando como uma canção, ou se brinca com a melodia dos versos, com as rimas, com o vaivém das palavras. Contar histórias é uma arte e, tão linda! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido e por isso, não é remotamente declamação ou teatro. Ela é um simples harmônico da voz (ABRAMOVICH, 1991). As histórias, de acordo com Abramovich (1991), podem suscitar o imaginário e responder a curiosidade da criança, sendo assim, é importante selecioná-las para que seja através do prazer ou emoções que o simbolismo, implícito nas tramas e personagens, possa agir no inconsciente da criança de forma que, aos poucos, possam ajudar a resolver os conflitos interiores que vivem e presenciam no cotidiano.
A criança, diante ao bom e ao belo é instigada a se identificar, trazendo em si a semente da beleza e bondade, sendo desafiadas a observar como essas personagens buscam seus caminhos para solucionarem (ou não) seus problemas, identificando se como heróis e heroínas e, até mesmo como os vilões, a criança procura a resolver sua própria situação, superando o medo que a inibe, auxiliando a enfrentar os perigos e ameaças que sente à sua volta. Neste aspecto, contar histórias é importante, segundo Abramovich (1991), porque auxilia na formação e constituição da criança que ao ouvi-las inicia sua aprendizagem enquanto leitora e em sua compreensão de mundo.
Durante a realização do projeto foi fundamental nos basear na oralização de histórias, utilizando e enfatizando diversas tonalidades de voz, de acordo com as exigências das personagens bem como a utilização de objetos. Para as contações utilizou-se também de imagens ou fantoches que encenaram as histórias e objetos presentes em sala de aula e de fácil acesso, com o objetivo de propiciar a compreensão das mensagens trazidas, implícitas e/ou explícitas a história. Para iniciarmos a contação era realizado um acordo de silêncio e atenção com as crianças, evitando assim os ruídos paralelos à atividade e que poderiam atrapalhar no desenvolvimento e compreensão do tema abordado.
Para o desenvolvimento das ações é importante destacar que a forma com que o espaço foi organizado influenciou positivamente o desenvolvimento das ações propostas, sentando em roda por exemplo, facilitando assim a comunicação, a observação e a interação dos alunos com os contadores.
A partir das vivências proporcionadas pelo projeto “A contação de histórias como proposta pedagógica de valorização da memória e da luta da população camponesa” é importante ressaltar que o trabalho pedagógico não necessariamente deve esperar pela alfabetização formal, e sim para que as crianças tomem gosto para ouvir, ler e refletir por meio de boas histórias. A contação de histórias tem potencial de auxiliar no desenvolvimento psicológico e moral do ouvinte, a partir das reflexões propiciadas pelas histórias, selecionadas pelas professoras e também as elaboradas pelas próprias crianças e demais participantes. Nesse sentido, enfatizamos as potencialidades das histórias em fomentar a sensibilidade do ouvinte, junto a possibilidade da criança de identificar-se por meio da ação das personagens assim como na associação das mesmas no processo de alfabetização.
Durante o processo de desenvolvimento do Projeto, houve a participação de antigos moradores da região onde a escola está inserida, contando causos e fatos marcantes acontecidos em outras épocas e que foram passados de geração em geração, contribuindo assim, para a conservação de fatos históricos que constituíram a historicidade do local onde vivem. Um dos desafios enfrentados na realização do projeto foi despertar o gosto por ouvir histórias dos alunos participantes, o qual foi sanado com a busca ativa por participação e protagonismo dos mesmos, contando histórias e confeccionando personagens de fantoches ou objetos encontrados em sala de aula e no pátio da escola. Relatos de pessoas da comunidade, de pais e dos próprios alunos demonstraram que os objetivos propostos foram alcançados e que o processo contribuiu para a aproximação da comunidade e famílias com a escola.
A proposta do Projeto teve ainda, por objetivo refletir sobre a importância de valorização da cultura camponesa ser tratada desde a Educação Infantil nas Escolas do Campo. Por meio da contação de histórias é possível tratar de fatos importantes da vida cotidiana camponesa, que não podem ser deixados de lado. O contar histórias apresenta aspectos essenciais para ocasiões desafiadoras, assim sendo, estabelecem vínculos educativos, culturais, afetivos e sociais. A educação do campo acontece tanto em ambientes escolares quanto fora deles, abrangendo saberes de um povo, procedimentos, momentos e espaços físicos diferenciados, concretizam-se na organização das comunidades e dos seus territórios, os saberes devem ser valorizados nas salas de aula, aqueles estabelecidos na produção, na família, no meio social, na cultura, no lazer, nas lutas e nos movimentos sociais.
A contação de histórias é de suma importância para o desenvolvimento cognitivo, social, intelectual e cultural das crianças. Freire (1983) enfatiza que, escrever e alfabetizar-se é, antes de tudo, aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, não numa manipulação mecânica de palavras, mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade.
O domínio da linguagem oral e escrita é fundamental para a participação social, pois são meios de comunicação, de acesso à informação, e forma de se expressar e defender pontos de vista, partilhar ou construir visões de mundo, produzir conhecimento, etc. O ambiente social e as condições de vida da criança desempenham papel importante nesse processo, uma vez que recebe do meio os mais variados estímulos que vão promover seu desenvolvimento. A criança deve ter oportunidades de vivenciar a leitura e a escrita, tal qual vivenciou a fala, pois a partir do contato com diferentes materiais escritos passa a compreender suas funções, tipos de grafia, etc., levando-se em consideração que a leitura e a escrita são importantes na escola porque é importante fora da escola, e não o contrário. (Ferreiro, 1993).
O projeto Educação no Campo: a contação de histórias como proposta pedagógica de valorização da memória e da luta da população camponesa, foi uma proposta para estimular a prática da oralidade no ambiente escolar e pode aproveitar o que de melhor a contação de histórias oferece: a utilização de uma linguagem alegre, além da cumplicidade entre o contador de histórias e sua plateia. Para a contadora de histórias Cléo Busatto, “O contador de histórias cria imagens no ar materializando o verbo e transformando-se ele próprio nesta matéria fluída que é a palavra“. (BUSATTO. 2012, p. 9). Ouvir uma boa história, provoca a imaginação, aguça a criatividade, transforma palavras em imagens que são construídas individualmente.

A valorização da memória e da luta da população camponesa

A identidade camponesa se manifesta em diferentes aspectos de sua cultura, seja pela forma e objetivo de cultivar a terra, formas de organização e também por meio de experiências individuais e coletivas vividas e refletidas no cotidiano da vida no campo.  A escola onde o projeto foi desenvolvido atende alunos moradores do próprio Distrito, filhos de pequenos sitiantes, assalariados rurais e filhos de assentados da reforma agraria.
Por meio do desenvolvimento do Projeto foi possível refletir sobre a importância da valorização e o fortalecimento da identidade camponesa através de momentos de contação de histórias e causos acontecidos e que permanecem na memória das pessoas mais velhas, levando os participantes a refletir sobre a importância dos aspectos culturais e ideológicos fortalecendo a historicidade do lugar onde vivem.
Dentre os objetivos propostos pelo Projeto destaca se a identificação, os desafios e os aspectos em que se expressam a identidade camponesa, contribuindo assim para sua valorização. Tomando como característica marcante do Projeto, o poder de lidar com conteúdo da sabedoria popular e conteúdos essenciais da condição humana, universo que denota a fantasia, partindo sempre de uma situação real e concreta, lidando com emoções que toda criança já viveu.
Se torna cada vez mais necessário discutir e refletir sobre vários pontos de vista sobre a realidade que se torna cada vez mais complexa, onde principalmente o povo camponês tem sua identidade desvalorizada Caldart destaca que

 

A perspectiva da Educação do Campo é exatamente a de educar este povo, estas pessoas que trabalham no campo, para que se articulem, se organizem e assumam a condição de sujeitos da direção de seu destino (CALDART, 2002, p. 27).

 

Nesse sentido apontamos a importância da educação no processo de fortalecimento e valorização da identidade camponesa. O desenvolvimento do Projeto, oportunizou a observar a realidade com um olhar crítico destacando, através de experiências e registros de saberes e práticas, a importância e a valorização do povo camponês, que ao longo dos anos vem transformando sua identidade e sua cultura, influenciados pelos costumes e hábitos da vida. Sendo assim, momentos de conversas, contos e causos tornam-se escassos no cotidiano das famílias, não possibilitando entre elas o diálogo e o convívio social.
Acreditamos que a construção da identidade vai além de algo ensaiado ou copiado, é inerente ao ser humano, por sua peculiaridade de ser social. Ela é construída de várias fontes e significados que vão se constituindo por características específicas que de forma explícita ou implícita, compõem a bagagem cultural dos sujeitos.

 

Contudo, identidades são fontes mais importantes de significado do que papeis, por causa do processo de autoconstrução e individuação que envolve. Em termos mais genéricos, pode-se dizer que identidades organizam significados, enquanto papéis organizam funções (CASTELLS, 1942, p.23).

 

O processo de formação da identidade pode ser representado por significados simbólicos e materiais, mas vai, além disso. A história de cada pessoa faz parte da história de seu grupo familiar, sua comunidade, seu país e assim por diante. Temos necessidade de convívio social e nesta convivência, acontece o compartilhamento de experiências comuns que podem transformar a história dos lugares. Por isso, a construção da identidade camponesa possui sentidos e significados que se interligam possibilitando a construção de uma identidade legitimadora.
Momentos de contação de histórias presenciados na infância são fontes de inspiração que auxiliam no interesse e no gosto pela leitura e se tratando de contar histórias Abramovich (2003, p.17) vem nos dizer como “[...] é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias [...] Escutá-las é o início de descoberta e de compreensão do mundo”. É ouvindo histórias que as crianças começam a compreender o mundo e seus próprios sentimentos.
Essa proposta de prática educacional contribui para que a escola não seja vista somente como difusora dos conhecimentos sistematizados, mas uma instituição que também valoriza a cultura e promove a aproximação entre os educandos e os contadores de histórias do local. As conquistas educacionais e culturais decorrentes da implantação desse projeto, foram compartilhados com a comunidade escolar, lugar esse onde também se constrói o conhecimento cientifico.

Considerações finais

O desenvolvimento desse Projeto possibilitou compreender que, a identidade de um povo é expressa e sentida no desenrolar de suas ações do cotidiano. Ou seja, ela não é fragmentada, a identidade se expressa em todas as situações e dimensões. Diante do exposto neste relato e a partir das vivências na efetivação do projeto, foi possível observar que a contação de histórias contribui na formação da criança em vários aspectos, pois notamos melhoria no desenvolvimento da oralidade, uma vez que despertou segundo as professoras da sala, o interesse pela leitura e estimulou a imaginação na construção de imagens interiores e do acesso aos universos da realidade e da ficção, dos cenários, personagens e ações narradas em cada história e em cada conto.
Outro ponto que consideramos importante destacar da vivência do projeto, foi o desenvolvimento da interação sociocultural, por meio da interação entre crianças e criação de laços sociais e o despertar pelo prazer de ouvir histórias contadas por moradores da região, e o despertar da criatividade em arte na confecção de materiais para os momentos de contação.
O desenvolvimento da capacidade de comunicação devido a provocação da oralidade levou as crianças a dialogarem com seus colegas ouvintes e (re) contar as histórias ouvidas, fato percebido nos momentos de inserções e retomadas ás histórias que haviam sido contadas anteriormente. As histórias também auxiliam na construção do conhecimento social da realidade, junto à formação de valores e conceitos, pois embora seja ficção, o texto literário tem o poder de desvelar a realidade social. Neste sentido, escolhemos histórias que contribuíram na formação de valores e conceitos positivos em torno da temática de valorização e da memória e da luta da população camponesa.
Esses elementos permitem concluir que os objetivos do Projeto Educação no Campo: A contação de histórias como proposta pedagógica de valorização da memória e da luta da população camponesa foram cumpridos, tendo em vista a perspectiva de contribuir através de aspectos culturais e ideológicos para a manutenção e o fortalecimento da identidade, como também realçar aspectos da identidade camponesa presentes dentro da escola, possibilitando as famílias e aos participantes, recontar as histórias e contos que perpassaram gerações realçando a memória e valorização da cultura camponesa.

As estórias são contadas no passado, mas elas não têm passado. Só tem presente. Estão sempre vivas. Quando as ouvimos ficamos “possuídos”, rimos, choramos, amamos, odiamos – embora elas nunca tenham acontecido. (RUBEM ALVES in MEDEIROS, 2015, p. 192)

Percebe se as contribuições desse trabalho quando se analisa a importância da cultura bem como seus aspectos, que se fazem presentes no cotidiano das famílias e assim contribuir para reflexão e analise dos desafios, como também realçar os aspectos culturais que possa fortalecer a identidade dentro da região onde a escola está inserida.
O desenvolvimento do projeto trouxe aprendizagem a todos os envolvidos, foi uma experiência significativa, na qual, todos os participantes de envolveram e participaram efetivamente desde o início da organização do projeto, até retomada de decisões, sendo que a leitura e a escrita fizeram parte do dia a dia do projeto na busca de informações, registros e divulgações das ações.
Devemos considerar que durante o desenvolvimento deste projeto, foram muitos os momentos merecedores de registros especiais resultantes da contação de histórias, tais como a participação dos estudantes nas suas pesquisas históricas entre os seus familiares, nas conversas e entrevistas com vizinhos contando as histórias de vida, do difícil trabalho com a terra para a produção de alimentos, o falar e ouvir mais afetivo, o aprimoramento no diálogo com os colegas e familiares. Para os educandos, foi o início de uma outra forma de se ver, quanto às suas origens familiares assim como um outro olhar para o lugar onde vivem.
Não podemos deixar de considerar ainda que, este projeto possibilitou o de resgate da cultura local por meio da contação de histórias e causos, apresentando um caminho possível de incentivo à aprendizagem, por meio do encantamento, trazendo alegria a esse processo de aprendizagem significativa, mudando o fato de que tradicionalmente os educandos se organizavam dispostos em filas, por uma que liberte, que não seja tão rígida a ponto de criar sombras à frente, à esquerda e à direita, e que enriqueça a imaginação a criatividade, deixando as caminhar outros caminhos, que traga alegria pelo aprender e que este aprender, seja mais colorido, mais cheio de vida e que traga transformação, prazer e encantamento pelo conhecimento.

 

Referências

ALVES, Rubem. Explicação. In MEDEIROS, Fábio H. N. (Org.) Contação de histórias: tradição, poéticas e interfaces: São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2015.

ABRAMOVICH, F. Literatura Infantil. São Paulo: Ed Scipione, 1991.

ABRAMAVICH, Fanny. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 2003.

BUSATTO, Cléo. Contar e Encantar: Pequenos segredos da narrativa. 8. – ed: - Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do Movimento Sem Terra: escola é mais do que escola. Petrópolis: Vozes, 2002.

CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. Tradução Klaus Brandini Gerhardt. São Paulo: Paz e Terra, 1999 (A era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura v. 2).

FERREIRO, E. Com Todas as Letras. 4 ed. São Paulo: Cortez, 1993.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança. São Paulo: Paz e Terra, 1992.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

 

 

Comentários

  1. Parabéns pelo trabalho. A Educação no Campo se reveste de grande complexidade, exige corpo teórico e metodológico específico. O resgate da cultura local por meio da contação de histórias e causos é uma proposta instigante e de grande valor para formação identitária, cultural e cidadã. As questões que colocamos vão no sentido de fomentar a consolidação dessa iniciativa e reflexões conceituais:
    (1) Além da contação de história foi pensado o registro dessas narrativas? Um rico material pode ser produzido, seja por meios digitais ou analógicos, pela produção de vídeos ou livros.

    (2) O conceito de camponês está sendo utilizado sob qual concepção? No distrito Alto Tamandaré seus habitantes possuem qual relação com a terra? O uso desse conceito (camponês) reflete uma concepção de mundo.

    Ana Isabel Leite Oliveira

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    1. Olá Ana Isabel, obrigada pelas reflexões e considerações!

      O registro de todo o processo no desenvolvimento das ações aconteceu por meio de fotos, pequenos vídeos e ainda também por produções (desenhos) feitos pelas crianças, os quais no final formaram um lindo portfólio.
      O conceito camponês foi utilizado para identificar as famílias participantes da proposta de trabalho, pois essas pessoas vivem e trabalham no campo. Os alunos da turma são filhos de pequenos sitiantes, assentados, assalariados rurais e moradores do distrito. Esses Camponeses são trabalhadores rurais que possuem atividades produtivas ligadas diretamente à terra.

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  2. Que belezura de trabalho. A junção - educação campesina e educação infantil- me chamaram a atenção, envolvem uma linha de pesquisa e faixa etária que muito me agrada e sou mais familiarizada. Fiquei curiosa para saber se na proposta pedagógica de valorização da memória e da luta da população camponesa vocês utilizaram histórias comuns aos casos das crianças do território, e também para saber como vocês fizeram para que as crianças registrarem os relatos orais de contos e causos dos sujeitos da comunidade que estiveram participando ?

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    1. Olá Iassana, obrigada pelas considerações!

      O foco central deste trabalho foi retirar da invisibilidade a memória, o cotidiano, os modos de vida da comunidade onde a escola está inserida, os quais são assentados da reforma agrária, filhos de pequenos sitiantes, assalariados rurais e moradores do distrito. Dos relatos de membros dessa comunidade, evidencia-se uma identidade em torno do uso e ocupação da terra, da agroecologia e de sustentabilidade e que de algum modo, resistiram em seus territórios e ainda os disputam, relacionando-os com a conservação dos recursos naturais. O registro de todo o processo no desenvolvimento das ações aconteceu por meio de fotos, pequenos vídeos e por meio de produções (desenhos) feitos pelas crianças, os quais no final formaram um lindo portfólio.

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    2. que bacana! Esse memorial com fotos vai marcar, com certeza, a história da escola. Parabéns!

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  3. Boa noite , parabéns pelo texto. Não caberia o título ser Educação do/no campo? O meu texto fala também de Educação do/no campo estou no grupo GD2 passe lá. Luciano de Oliveira Costa

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    1. Olá Luciano, obrigada pelas considerações!

      Segundo Bezerra (2010) se entendermos que o processo educacional deve-se ocorrer no local em que os sujeitos residem, devemos falar de uma educação no campo, não havendo assim a necessidade de se pensar em uma educação específica para o campo, dado que os conhecimentos produzidos pela humanidade devem ser disponibilizados para toda a sociedade. Vamos ver seu trabalho sim, Gratidão!

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  4. Respostas
    1. Agroecologia e a Educação do campo: um diálogo interdisciplinar nos saberes dos itans GD2

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  5. Importante relato no sentido de chamar atenção para o quanto a oralidade é potente como ferramenta de inclusão. As histórias trazidas para a escola trazem outras narrativas que escapolem a uma noção de história única e garante a diversidade dentro da escola. A contação de histórias inclui, aprofunda e testemunha a riqueza de nossa pluralidade. A educação no campo é riquíssima como experiência que o Brasil tem de conhecer e fortalecer. Abraços e vamos em frente.

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    1. Obrigada pela consideração professora Ângela, de fato a contação de histórias é riquíssima em valores culturais, e nos permite perceber o quanto de saberes plurais e multiculturais nós temos.

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  6. Parabéns pelo relato de experiência! É muito bacana observar o quanto a contação de histórias contribui para o diálogo geracional e para a aproximação da comunidade com a escola. E como essas ações são enriquecedoras. Gostaria de entender melhor quando utilizam no relato "a escuta de bons textos". Talvez "bons textos" pode parecer muito relativo, a depender dos sujeitos, contextos, escolhas. Percebi que especificou mais à frente os tipos de leitura. Talvez deixar mais claro os gêneros textuais que foram trabalhados/socializados.

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    1. Gratidão pelas contribuições Valdinéia, o apontamento "a escuta de bons textos” se refere a textos específico do contexto proposto, tais como: memórias e causos, pois ouvir uma boa história, provoca a imaginação, aguça a criatividade, transforma palavras em imagens que são construídas individualmente.

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  7. Parabéns por esse projeto tão humanizador. A valorização da cultura imaterial, da memória local, e o mais importante ouvir a história de quem tem história para contar. Foi uma atitude de respeito ao lugar de fala. Muito rico este projeto. Concordo com as sugestões de um projeto de registro escrito destas histórias, mas que a história escrita não substitua esses momentos de interação entre a escola e a comunidade.

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    1. Olá Josiane, Gratidão pelas considerações. os registros são muito importantes, porém concordo plenamente, nada substitui os momentos de interação, de comunicação e sensações, compondo as memórias de vivencias e do local onde se vive.

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  8. Bom dia !
    Josiane,

    Tivemos a oportunidade de demonstrar para alunos a importância do Patrimônio Cultural , apresentando a realidade de sua comunidade e o contexto como subsídios para o desenvolvimento . Observamos um visível estímulo ao engajamento dos estudantes para a importância da conservação do patrimônio (cultural ) local, por meio do resgate da autoestima e da identidade cultural. Ao final deste processo, os alunos serão capazes de se tornar multiplicadores do conhecimento.

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  9. Primeiro quero parabenizá-los pelo brilhantismo do relato. O meu questionamento é sobre a participação dos moradores na contação das histórias, como ocorreu esse processo de escolha e de que maneira vocês acreditam que essa contação pode contribuir na formação e valorização das identidades dos discentes?

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  10. A participação da comunidade foi realizada com reuniões, explicamos como seria desenvolvido . Comunicamos como iriamos receber as historias e que seriam avisados de quando reuniríamos novamente. Porem foram vários encontros com a comunidade, para que todos tivessem oportunidade de expor, contar e falar sua historia. A contribuição e que os moradores mais novos as crianças não conheciam muitos fatos. O resultado prazeroso é levamos a família para a escola.
    Ilza Alves Pacheco
    Campo Grande/MS

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  11. Muito bom o projeto! É tão bom essa articulação entre escola e comunidade, valorizando os saberes populares. Com certeza os moradores(mais velhos) devem ter ficado bem satisfeitos, saber que são valorizados por aquilo que só eles sabem fazer, que é contar suas história e encantar o público, ainda mais crianças que são tão curiosas. Imagino a felicidade de todos(as) que participaram.

    Grata. Maria Helena Brito de Almeida.

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    1. Agradecemos Maria Helena por ler nosso artigo, sim foi um trabalho muito empolgante, rico em emoções e aprendizados, tanto pelas crianças e os moradores mais antigos, que proporcionou a fortalecer os laços afetivos, como a conscientização ambiental.

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